Honestidade em tempos de corrupção
Honestidade, segundo o Dicionário Aurélio, é "qualidade ou caráter de honesto; honradez, dignidade", "probidade, decoro, decência". Um caráter de decência, um predicativo de qualidade da pessoa, a honestidade é uma das poucas virtudes que, ainda se praticadas em excesso e de forma absoluta, mal não farão à pessoa (ao menos, mal insuportável).
A honestidade é, em simples referência, a atitude pensada em prol do outro, como membro participante da comunidade e que gostaria de receber o mesmo tratamento. É uma ação positiva, pelo simples fato de que, em situação similar, gostariamos de receber o mesmo tratamento.
Contudo, com uma sociedade separada por castas e isolada ao máximo, onde o outro não tem função aparente alguma, sendo-lhe relegado o lado de fora dos carros ou o de dentro das prisões, cada vez mais dificil achar alguém que seja honesto, no sentido puro da palavra.
Políticos desfilam honestidade, quando buscam ser votados, e a atenuam, quando em escândalos envolvidos. Traições midiáticas mostram-se mais e mais comuns, em tempos de informações céleres e instantâneas. Revoluções asiáticas nos são mostradas no mesmo momento em que assistimos a algum congressista jurar, em nome do filho(a), não ter relações com o ato ímprobo que lhe é imputado. Ao menos, as juras valem até a próxima prova contundente.
É a velocidade máxima de nossa intercomunicatividade, em que uma mensagem vai por telefone, SMS, e-mail, bip's e formas outras, conectando todos os viventes. E, ao mesmo tempo, excluindo os mesmo viventes, pois cada pessoa, nessa louca corrida maluca, se vê na missão de ser a melhor, de conseguir as melhores benesses, de ser a mais bem sucedida.
E algumas pessoas, com essa intenção, se perdem de forma trágica. Há aqueles que se vendem por miseros reais, dando o corpo ao desatino dos andantes. Há os que vendem seus votos, por tantos e tantos dinheiros, para livrar da cela aquele que deveria, ao menos por imposição legal, lá permanecer por mais tempo. Há os que se vendem por muito menos, por um local de prestígio, uma colocação de destaque, por um "local no coreto", apenas para figurar entre outros figurões, como se, aquele fato isolado, fosse algo ontologicamente revelador de destinos - o que, por certo, não o é. E há os que desistem de sua hombridade para prová-la, numa vã tentativa de retornar a um estado irretornável.
Submetemo-nos, iguais coisas, ao estado do mercado. E somos, constantemente, indagados sobre nossa própria natureza, sobre o "quer pagar quanto?", indagado pelo jovem de uma rede de lojas. E, muitos, por razões mil e que não podem ser concretamente e inteiramente descortinadas, não exigem que o pagamento seja muito alto - revelando que, em verdade, corruptível, mesmo, é um predicativo quase certo em todo aquele que possui alguma ambição e pouco tempo de reflexão.
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