quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Enganação das Financiadoras de Veículos

Carango e sonho de consumo





Quem já não ouviu falar que o investimento em carros, em face do baixo preço, juros abaixo da média de mercado, seria muito melhor que outros investimentos, como ações, rendas fixas?


Volta e meia, essa temática é alvo de matérias em jornais matutinos e somos jogados na (falsa) idéia de que financiar um carro, por vezes, é melhor que comprar à vista ou que investir em CDB, por exemplo. Mas isso é um erro grotesco.


Finalmente, achei um bom artigo sendo públicado, em um periódico de respeito - Correio Brasiliense. Essa matéria, sim, é de opinião pública e merece ser repassada por todos os meios!



Financiamento - Números Manipulados



Em reportagem de 5 de setembro (disponível no Veja Também, no canto superior direito desta página), mostramos a força dos setores de F&I (finanças e seguros), que influenciam fortemente o fechamento de negócios nas concessionárias. Vendedores são treinados para iludir o consumidor, dizendo que vale mais a pena aplicar o dinheiro e financiar o carro do que comprar à vista.


Na reportagem, um especialista em F&I dava o seguinte exemplo: "Suponha que você vá comprar um carro de R$ 45 mil. Se, em vez de pagar à vista, pegar esse dinheiro e aplicar a 0,7% ao mês, em 36 meses, terá R$ 57.846. Enquanto que, se financiar o carro, pagando juros de 1,4% e 36 prestações de R$ 1.599,90 (considerando-se que o dinheiro usado para pagar futuras prestações sairia do orçamento mensal do consumidor, ficando os R$ 45 mil intactos), no final terá pago R$ 57.596. O valor financiado está menor do que o conseguido na aplicação".


Tragicômico


Diante do exemplo, o professor de finanças do Ibmec Eduardo Senra Coutinho chega a rir da estratégia: "Primeiro, o raciocínio está errado, porque você não pode simplesmente pegar as parcelas e multiplicar, pois os juros são acumulados até o fim. E não leva em conta a quantia que o consumidor deixou de ter (os R$ 1.599,90 pagos todo mês) e poderia ser aplicada. Se você pagar o carro à vista, mas aplicar todo mês os R$ 1.599,90, a 0,7%, em 36 meses, no fim terá R$ 65.245,53, além do carro".


O professor lembra que o valor representa 45% mais em relação ao preço do carro e dá outra sugestão: "Se o consumidor investir o dinheiro e esperar 36 meses para comprar o carro, vai pagar à vista e ainda sobra troco ou será que o preço do carro vai subir tanto"? "A melhor opção seria investir na compra à vista do veículo e fazer poupança da possível parcela que o consumidor pagaria. Assim estaria evitando dívida a longo prazo e criando reserva, poupança, para seu uso", pondera o técnico de pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), da UFMG, Eduardo Antunes, depois de também analisar o mesmo exemplo.


Sereia


Fazendo apologia ao sedutor canto das sereias, os também professores de finanças Gustavo Alves Tillmann eAntônio Lucena Benavenuto alertam para a manipulação dos números e acrescentam que, diante do argumento do financiador, seria interessante pensar que: "No banco você recebe R$ 7 para cada R$ 1 mil que mantém aplicado, enquanto no financiamento paga R$ 14 para cada R$ 1 mil que pega emprestado. Assim, ao optar pelo financiamento, você estará disposto a abrir mão de R$ 7 de cada R$1 mil do seu suado dinheiro para a financeira que o convenceu a optar pelo financiamento".


Voltando ao exemplo sedutor, eles vão além: "Se você resolvesse fazer retiradas mensais do recurso aplicado com taxa de 0,7%, para pagar as mensalidades do financiamento, ao final de 31 meses toda a aplicação já teria sido consumida, e no fim dos 36 meses estaria com o carnê em atraso por cinco meses e devendo cerca de R$ 7,4 mil, sem contar multas, encargos por atraso e o risco de ter o carro tomado pelo credor".


Por fim, eles dão um conselho: "Lembre-se de que o dinheiro vale mais hoje do que amanhã. Logo, para o vendedor preferir receber o valor do veículo em parcelas, em vez de uma só vez, esteja certo de que ele estará cobrando uma boa compensação pelo financiamento. Além disso, comparações de resultados matemáticos podem ser sedutoramente manipuladas".




Fonte: Correioweb

Nenhum comentário: