O Cinema brasileiro, dessa vez representado por um cineasta nada ortodoxo, apresenta um novo/esperado/comentado/divulgado filho, qual seja, o filme "Tropa de Elite".
De longe, esse é o filme nacional mais comentado que eu tenha notícias. E não é pra menos, pois entre suas ambições inaugurais já se incluiam concorrer para o Oscar e se transformar em um grande blockbuster nacional, bem superior a "Cidade de Deus", por exemplo.
Quem já teve a oportunidade de assistir o ótimo "Notícias de uma Guerra Particular", de Salles e Kátia Lund, teve uma prévia deste Tropa. E o sensacional é que o policial do BOPE, que dá a entrevista no documentário, é o autor do livro "Elite de Tropa", ou seja, a figura inspiradora do "Capitão Nascimento", que foi interpretado pelo Walter Moura. Total interação entre o documentário, livro e noticiário.
Como uma boa produção, que busca arrecadar dinheiro entretendo, o filme possui alguns problemas pontuais. A relativização da ótica entre "compradores", "vendedores" e "policiais", esquece a base principal de entrada, os "fornecedores". Tudo bem, já que em um filme não dá pra retratar todas as questões referentes à criminalidade dos tóxicos. Mas poderia, ao menos, ser mencionada a influência dos grandes cartéis na droga dos Morros do Rio.
De uma outra ponta, e isso pode iludir determinadas pessoas, a trama se desenvolve anteriormente à nova Lei de Drogas, Lei 11.340, que atenuou, e muito, o crime de usar drogas. Esse, talvez, não seja sequer um boto negativo do filme, pois o lapso temporal em que se desenvolve a narrativa não abarcaria uma explicação do novo tratamento das drogas do Brasil. Mas, refletindo seriamente, o filme mostra uma posição firmada acerca da criminalidade de drogas e, especialmente, à criminalização do uso de entorpecentes. E, nessa onda de posicionamentos sobre uso de drogas, cada meio propugna uma solução que entende mais adeqüada (embora não seja, sempre, a mais correta). No meio desse choque de informações, um coitado que, às vezes, nem sabe o que está acontecendo (por óbvio, estou falando dos desinformados usuários, não dos traficantes e fomentadores do tráfico).
No mais, é um bom filme. História envolvente, elenco convicente e atuação exemplar dos protagonistas, Cap. Nascimento (Wagner Moura), aspiras Matias e Neto (André Ramiro e Caio Junqueira) e Baiano (Fábio Lago). A fotografia está muito interessante, principalmente as tomadas do treinamento do BOPE. O som fica a desejar em alguns pontos, como na danceteria ou troca de tiros, mas nada que comprometa o entretenimento.
Resumindo, um bom filme que, graças à pirataria (querida ou não), tem tudo para se tornar o grande filme nas telas brasileiras de 2007, desbancando qualquer enlatado americano.
A título informativo, é importante mencionar que o Capitão Pimentel, que foi o policial que deu entrevista para o documentário "Notícias de uma guerra particular", foi banido dos caveiras do BOPE, por ter "traído" a pátria com as revelações intestinais da Polícia do Rio de Janeiro.
Após o documentário, ele foi obrigado a deixar a carreira policial. Ele escreveu, juntamente com o Cap. Batista, o livro "Elite de Tropa".
Para quem se interessar pelo livro, há outros bem interessantes como "Rota 66 - A história da polícia que mata" e "Abusado", ambos de autoria do jornalista Caco Barcelos, e "Cabeça de Porco", de MV Bill. Outras sugestões são bem-vindas.
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